quarta-feira, 13 de abril de 2011


Apresentação do trabalho
O pensador alemão Martin Heidegger argumentava que a verdade está na arte e se manifesta como clareiras que desencobrem a verdade nas fissuras do tempo. Este pensamento nos leva a refletir sobre um possível caminho que temos para perceber a essência das coisas que habitam o mundo.
Este texto se refere a um conjunto de trabalhos artísticos que constituem a série Ócios do Ofício. Sua intenção é dar aos objetos prosaicos um caráter poético na forma de arte. São objetos presentes em escritórios, em salas de aula, em casas, que estão inseridos no cotidiano do mundo no presente em que vivemos. Ao serem apresentados como formas nascidas de momentos em que se busca aliviar o estresse do trabalho, o peso das pressões do dia a dia. Revelam um olhar particularmente poético, que envolve a vida com certa reflexão, prazer e arte.
São trabalhos produzidos, ou concebidos, no intervalo do tempo de meu trabalho como educador no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, MAC USP. A ideia é de fazer um trocadilho com a aquela afirmação que surge quando se tem dificuldades ou problemas no trabalho, são os ossos do ofício. Neste caso, os momentos de ócio é que se constituem como elemento de ignição do trabalho artístico. Sua estrutura formal entrelaça texto e imagem, com a intenção de propor que se dê um tempo, em meio das atribulações cotidianas, para olhar as coisas de outras formas. Quer com isso usar o olhar prosaico como modo de vivenciar o momento precioso do presente. Texto e imagem se complementam e conjugam-se. O texto não serve como léxico, em busca de definir ou constituir uma legenda do objeto, mas sim de mobilizar, ou atribuir ao objeto outros sentidos, em uma percepção de instante.
“Ócios do Ofício” também trata da aparente contradição que há entre o trabalho em um museu de arte e a dissociação de um trabalho artístico possível dentro dessa atuação. Muitas vezes a arte está completamente distante, no sentido da criatividade e imaginação que envolve o seu fazer, do trabalho em um museu. Imerso na burocracia, na administração de setores, na organização de agenda escolar, na própria ação educativa que caracterizam o meu trabalho como educador, a arte acaba não encontrando espaço para manifestar-se. Resta para produzir arte, breves intervalos de tempo, momentos “ociosos”, que tem que ser magicamente esticados na abstração do tempo, para que a imaginação possa ser expressa. O que pode parecer obvio, trabalhar como arte/educador, num museu de arte contemporânea, aonde deveria haver uma relação natural com a produção artística ou com a experiência artística, de um modo direto, ou mais natural e cotidiano, de fato não acontece. Entretanto, é o museu quem estimula a criação, que fundamenta a imaginação, que provoca o olhar que se expressa em arte. Por esta razão, não produzir arte, trabalhando em um lugar como esse, chega a ser torturante. Assim, a melhor forma de responder a isso é, na dimensão entrecortada do tempo e espaço, produzir arte, ainda que seja nos “Ócios do Ofício”.

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